quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dona Coelha


Olha, pode até parecer, mas isso aqui não é um blog abandonado, não! Tudo bem, quase dois meses separam esta da postagem anterior, mas tempo é uma questão de física, matéria muito misteriosa, sobre a qual não temos a menor condição ou intenção de discutir aqui nesse bloguinho.

O que interessa é que estou de férias – uhuuu! – e tomei duas providências capitais: comprei uma caixa de Sucrilhos – para ser degustado puro, com leite ou iogurte, naqueles momentos em que não se está fazendo absolutamente nada, apenas relaxando e ativando na memória aquele gostinho de infância – e fiz um bolo – que funciona da mesma forma que o Sucrilhos.

Bolo de cenoura foi a primeira receita que aprendi na vida. Eu tinha uns 10 anos. E uso (quase) a mesma receita até hoje (só acrescentei dois ingredientes). Na época, tinha lido um livro – meus pais sempre me entulharam de livros e gibis – que narrava uma historinha de um piquenique na floresta, com vários bichos, digo, bichas: dona vaca, dona coelha, dona sei lá qual mais. Cada uma levava uma coisa pra comer e, no final do livro, tinhas as receitas do que as bichas tinham oferecido às amigas. Só lembro do doce de leite da dona vaca e do bolo de cenoura, provavelmente da dona coelha.

Depois que eu cresci (repare que não disse “depois que fiquei adulta”, coisa muito difícil de fazer), e depois de ouvir alguns pensamentos feministas, fiquei matutando como aquele livrinho, aparentemente tão bonitinho e educativo, era opressor, já preparando as meninas, desde crianças, para o desejável papel social de dona de casa, ensinando o que seria sua mais genuína e irrefutável atribuição de gênero. Não lembro de ter lido nenhum livro que nos ensinasse a sermos independentes, que trouxesse uma mensagem do tipo “olha, minha filha, sua felicidade depende de você, não do príncipe encantado.” Ao contrário, além de ouvirmos desde sempre que “foram felizes para sempre” só vem depois que a mocinha encontra o mocinho, ainda tínhamos que aprender a cozinhar pra ele!

Embora não ache o raciocínio de todo errado, acho que dá pra exorcizar o livrinho do piquenique na floresta/livro infantil de receitas. Hoje, vejo várias pessoas que não sabem cozinhar e penso o quão grave é você não conseguir suprir a condição mais básica para a própria existência. Tudo bem, o livrinho podia ter um quê de conformação social, mas por outro lado despertava a curiosidade e o interesse para a mais exata das artes ou a mais imprevisível das ciências: a alquimia dos alimentos.

Bolo de Cenoura

2 cenouras médias
3 ovos
2 xícaras de açúcar
½ xícara de óleo
½ xícara de suco de laranja
½ colher (chá) de canela
3 xícaras de farinha de trigo
1 colher (sopa, bem cheia) de fermento

Descasque e pique a cenoura. Bata todos os ingredientes no liquidificador, exceto a farinha e o fermento, que devem ser misturados numa vasilha à parte. Despeje a mistura do liquidificador sobre a farinha com o fermento e mexa (de preferência, com colher de pau) até ficar homogêneo. Despeje a massa numa forma redonda com furo no meio (ou retangular, você que sabe) untada e enfarinhada. Asse por cerca de 45 minutos em forno pré-aquecido.

Calda de chocolate

½ lata de leite condensado
1 colher de manteiga
3 colheres de achocolatado em pó

Leve tudo ao fogo, mexendo sempre, até começar a desgrudar do fundo da panela. Também pode enfiar o pé na jaca e fazer um montão de calda, é só dobrar a quantidade. É a mesma receita de brigadeiro.

*Se quiser um bolo mais saudável, pode substituir metade da farinha de trigo branca por farinha de trigo integral e metade do açúcar refinado por mascavo.
** Para variar, substitua a canela por raspa de casca de limão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

De graviola a sapotille, da Colombia a Réunion


Gente: meu mousse de graviola não é lindo? É lindo e gostoso também.

Então, como havia anunciado, esse domingo fizemos o Colombo de Poulet e mousse de sapotille, por aqui conhecida como graviola. Do Colombo de Poulet, de verdade, não gostei. Vou tentar fazer de novo e, se der certo, publico a receita. Já o mousse de graviola... merveilleux!!!

Foi assim: eu, nessa minha constante busca pelos sabores e saberes créoles, encontrei um chef que se chama Christian Antou, da ilha de Réunion. Réunion é um território francês ultramarino, na África, do lado de Madagascar. O site dele é esse aqui. Foi nesse sítio que encontrei a receita do mousse de sapotille.

Depois de identificar os ingredientes necessários, Fred e eu fomos ao Mercado Municipal procurá-los, inclusive, a protagonista graviola. Mano do céu, quase infartei: a graviola é vendida a preço de ouro. Quinze reais o quilo! E cada fruta deve ter uns 3 quilos, é quase uma jaca!!! Depois de recomposta do susto – e perguntando o preço em absolutamente todas as barracas de frutas – encontramos um gentil feirante que nos ofereceu sua última graviola, digamos, excessivamente madura, por 10 reais, sem nem pesar. Topamos, mesmo que estivesse começando a estragar – o que, de fato, estava – compensava. Fiquei até às 4 horas da manhã de sábado tirando os caroços da polpa da graviola – o que adorei fazer, super terapêutico. É tipo o bacalhau, que você tem que chafurdar a mão pra desfiar, sabe? Delícia. Bem, tôl um pouco tagarela hoje, vou passar logo à receita. Beijo, beijo.

Mousse de graviola

1 graviola
500 ml de creme de leite fresco
1 lata de leite condensado
suco de 1 limão
um pouquinho de água
1 envelope de gelatina em pó sem sabor

Corte a graviola no meio no sentido logitudinal. Retire aquele negócio que tem no meio e parece uma estaca. Tire os caroços da polpa, um por um. Bata (levemente, alguns pedaços podem ficar inteiros) a polpa no liquidificador com um pouquinho de água. Misture a polpa batida com o leite condensado. Junte o suco de limão e mexa. Hidrate e leve ao fogo a gelatina em 12 colheres de água. Quando ficar morna, junte ao creme de graviola. Enquanto isso, bata o creme de leite fresco na batedeira até virar chantilly. Junte o chantilly ao creme de graviola já com a gelatina incorporada. Misture levemente. Leve para a gelar durante 10 horas. Sirva gelado, doce, mas levemente azedinho, fofo, cremoso e desmanchando na boca.

sábado, 17 de abril de 2010

Enquanto o poulet não vem...


Resolvi ir esquentando as panelas antes do poulet colombo e preparei essa receita aqui na quarta: camarão apimentado com arroz de coco. Coisa fina.

Como já disse, minha mãe é muito versada em frutos do mar, mas eu estou aprendendo a fazer agora. Essa receita fui eu que inventei, mas a partir do que vi minha mãe fazer e experimentando combinações com outros ingredientes. Minha mãe disse que minha avó fazia muito arroz de coco e feijão de coco, e que ela detestava e que meu tio China adorava. Tentei a receitinha da vovó e não me arrependi: ficou mara, harmonia dos deuses entre a tensão da pimenta e o conforto do leite de coco...

Meu camarão, un peu créole
18 camarões limpos e sem casca
½ colher (chá, rasa) de cominho
1 colher (sopa) de folhas de coentro picadas
1 colher (chá) de sementes de coentro
1 dente de alho amassado ou picado
1 pitada de cúrcuma
1 pitada de páprica picante
1 pitada de pimenta caiena
1 colher (chá) de pimenta preta em grão
sal
azeite
Tempere o camarão com todos os ingredientes, menos a pimenta preta. Deixe descansar por pelo menos uma hora. Numa frigideira, aqueça o azeite com a pimenta preta. Frite os camarões. Sirva picante, sobre o arroz de coco.

Arroz de coco
1 de xícara de arroz jasmine
1 e ½ xícara de água
½ de leite de coco
1 colher (sopa) de manteiga
½ colher (chá) de cardamomo em pó
sal
óleo (de milho, girassol ou canola)
Numa panela, aqueça o óleo e acrescente o arroz lavado. Refogue um pouco, junte a água e o leite de coco. Corrija o sal. Cozinhe até secar a água. Acrescente a manteiga, mexa e desligue o fogo. Misture o cardamomo. Sirva quentinho e macio sob o camarão.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Divulgando - Entre Estantes & Panelas


O ciclo de debates, palestras e mesas-redondas 'Entre Estantes & Panelas – A gastronomia de Pensar' recebe, no próximo dia 19, quatro produtores de ingredientes gastronômicos: André Luiz Theiss (siri-mole), Annette Heuser (ervas frescas e minilegumes), José Francisco Ruzene (arroz preto e vermelho) e Ricardo Carvalho Oliveira (palmito-pupunha). O encontro tem curadoria do chef Alex Atala e do sociólogo Carlos Alberto Dória e coordenação-executiva da jornalista Janaina Fidalgo. Em comum, os convidados têm o mercado de atuação: são, cada um em seu segmento, profissionais que atuam na produção de ingredientes diferenciados e focados na alta gastronomia. Especializaram-se, principalmente, no fornecimento para chefs de cozinha, que demandam novidades com alto padrão de qualidade e segurança alimentar, regularidade no fornecimento e uniformidade de tamanhos e sabor. É sobre o desenvolvimento desses produtos, a demanda pela constante melhoria na qualidade dos ingredientes, a necessidade de padronização, a adaptação às demandas dos chefs e a indispensável relação de parceria entre chefs e produtores que versa o próximo Entre Estantes de Panelas.

* Este evento será realizado no Teatro Eva Herz.
* Para participar da palestra, é necessário retirar senha (uma por pessoa), que será distribuída na Livraria Cultura a partir das 17h30 do dia do evento.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Le poulet créole



Nesse fim de semana, finalmente, farei minhas primeiras receitas verdadeiramente créoles, com todos os ingredientes. Depois de um extenso trabalho de assistir a vídeos no youtube, entender o que os cozinheiros falavam em francês, procurar as palavras no dicionário e fazer um “cara-crachá” no google imagens em francês e em português, consegui descobrir tudo o que vai nessa tradicional iguaria do caribe francês: le Poulet Colombo (ou Colombo de Poulet, vi escrito dos dois jeitos). Parece ser um frango cozido com legumes – até aí, também somos créoles – mas imagino que a diferença esteja nos temperos... inclusive, tive que ir à feira encomenda-los a Ivan semana passada, vou buscar na quinta. E outros ingredientes, ainda, vou comprar no Mercado Municipal no sábado, o que certamente valerá um post para este bloguinho de sabores.

Enquanto isso, fique na companhia da simpática chef Babette de Roziers, da ilha de Guadalupe, e de seu Colombo de Poulet (ou Poulet Colombo...). À bientôt.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Quitutes de festa II: pastinhas e torradinhas


Nada mais gostoso e lúdico para acompanhar uma boa conversa, uma boa música e uma boa bebida do que patezinhos cremosos sobre torradinhas crocantes... Deliciosos, eles matam a fome – ainda que em doses homeopáticas – e nos fazem exercitar a união – pois ficamos todos em volta da mesa, cobrindo de patê tantas torradas quantas necessárias para alcançar a saciedade – e o espírito de equipe – à semelhança dos atletas da natação ou do atletismo, temos que nos revezar diante dos potes e bandejas que nos magnetizam em torno dos quitutes. As duas receitas que publicarei a seguir aprendi a fazer em casa. O patê de atum, aprendi com meu pai, desde criancinha. O de ricota, não me lembro de ter visto ninguém fazer, então acho que fui eu que inventei. Na verdade, acho que adaptei do de atum do meu pai – os ingredientes são parecidíssimos... Fiz esses patês no open house da Diana e no aniversário do Andrezinho. Tudo de bom.

Patê de atum
1 lata de atum
3 ou 4 colheres de maionese (a consistência é a gosto)
½ cenoura ralada
2 colheres (sopa) de passas pretas
2 colheres (sopa) cebola roxa picada
salsa
azeite
sal
1 pitada de pimenta caiena em pó (mas ela é difícil de achar, então pode ser a do reino branca em pó)
Escorra a água/ óleo do atum. Se for em pedaços, desfaça com um garfo. Tempere com o azeite, o sal, a cebola e a pimenta. Acrescente a cenoura e as passas e misture. Acrescente a maionese e misture de novo. Junte a salsa picada por último. Sirva cremoso e levemente picante.

Patê de ricota
250g de ricota fresca
3 ou 4 colheres de maionese
1 cenoura ralada
3 colheres (sopa) de passas brancas
1 colher (sobremesa) de mel
salsa
azeite
sal
Esfarele a ricota com um garfo. Tempere com sal, azeite e mel. Acrescente a cenoura e as passas e misture. Acrescente a maionese e misture. Salpique a salsa e misture de novo. Sirva cremoso e levemente adocicado.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Quitutes de festa I: Doritos aiaiai!


Adoro festa. Adoro quitutes de festa. Adoro amigos reunidos comendo contentes. Comidinhas de festa são sempre fáceis, rápidas e deliciosas e proporcionam um altíssimo grau de felicidade - uma ótima relação custo/benefício. Esses dias, não sei por que, houve um acúmulo de aniversários e outros eventos sociais, nos quais tive a oportunidade de exercitar a culinária festeira que tanto me agrada. Publicarei aqui algumas receitas que são ótima guarnição para o “Parabéns pra você”.

Doritos aiaiai! (essa receita é do João, gracias, mi amor!)

1 pacote de Doritos sabor queijo nacho
geléia de alguma fruta vermelha (morango, amora, framboesa)
azeitonas pretas sem caroço e em rodelas

Disponha os Doritos em um prato ou bandeja. Despreze os quebradinhos. Coloque uma porçãozinha de geléia em cima de cada um e, em cima da geléia, uma fatia de azeitona. Sirva facinho e gostosinho.